Nota de repúdio ao elitismo e corporativismo na gestão universitária
A Diretoria Colegiada do Sintufes vem a público registrar nosso repúdio à decisão do Conselho Universitário (CUn) da Ufes que aprovou, no dia 24 de outubro de 2022, o regimento eleitoral para a Superintendência do Hucam vedando a possibilidade de os trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação (TAEs) da Ufes se candidatarem ao cargo, bem como repudiamos também as manifestações elitistas e corporativistas que ocorreram na sessão.
A proposta original de regimento, relatada pela representante TAE Patrícia Bianchini e aprovada na Comissão de Legislação e Normas do Cun, previa a possibilidade de os técnicos da Ufes, que preenchessem os demais requisitos, se candidatarem ao cargo mais alto da gestão do hospital universitário. Essa proposta seria um avanço democrático em relação à eleição anterior e tem embasamento legal.
No entanto, durante o debate da proposta no plenário, a atual superintendente do Hucam, professora Rita Elizabeth Checon de Freitas Silva, defendeu que somente alguns docentes do CCS (excluindo diversas áreas da saúde, como Psicologia e Serviço Social) poderiam se candidatar ao cargo, e incluindo ainda a exigência de doutorado para exercer o cargo, sendo que essa não é uma previsão legal. Uma regra local, de pura conveniência.
Ao confrontar o posicionamento do representante TAE Daniel Pompermayer, a superintendente do Hucam disse: “Daniel falou ‘por que que um médico não pode ser [Superintendente]?’ Sabe o que a gente fala aqui, Daniel, tanto para o médico, pro enfermeiro, que seja para um farmacêutico? A minha orientação […] àquele se interessa por gestão eu falo: procure fazer, procure se candidatar a um concurso público para professor. Porque é assim. Esse é um hospital universitário e deve ter professor à frente dele”. (Grifo nosso)
(Confira na íntegra a fala da professora às 2h18min23 do registro da Sessão clicando aqui.)
A manifestação da professora retoma um discurso elitista e corporativista que está enraizado na tradição universitária: de que os TAEs só servem para cumprir tarefas operacionais e que seria uma “vocação” dos docentes a tarefa de gestão. Além disso, insinua que seria um sonho dos TAEs se tornarem docentes, sendo esse o requisito para ser dirigente de seus locais de trabalho. Essa postura reforça uma visão de que a Universidade é dividida em castas, e que os docentes estão no topo dessa pirâmide social. No entanto, para o cargo em questão, não há nenhuma previsão legal para essa restrição. Trata-se de um veto político e corporativista.
Em qualquer hospital um médico pode ser diretor. Somente na Ufes um docente tem exclusividade em relação aos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais e demais profissionais da saúde. A exigência de doutorado faz todo sentido para se contratar um professor universitário, no entanto, para selecionar um diretor de hospital não é um requisito, e sim ter experiência na área de gestão, capacitação específica (não necessariamente em nível de doutorado) e atuar na área de saúde. Isso porque um doutorado não te capacita para ser gestor (a não ser que seja na área de gestão pública), e sim, te capacita para ser pesquisador. Novamente, o elitismo se revela nesse debate.
Enfim, reiteramos que essa polêmica não é exclusiva com a superintendente do Hucam, ao contrário, ela se expressa na opinião da maioria do corpo docente, tanto que essa posição venceu no Conselho Universitário. Se queremos construir uma universidade verdadeiramente democrática, voltada para os interesses da classe trabalhadora e combater o elitismo histórico de nossa universidade, em especial na área da saúde, devemos abandonar essa postura corporativa e exclusivista. Além disso, nada mais democrático do que permitir que a comunidade que trabalha no Hucam quem será seu novo superintendente, seja docente, seja TAE.
Reiteramos nosso repúdio à decisão do Conselho Universitário (CUn) e às manifestações elitistas e corporativistas proferidas pela atual superintendente do Hucam. Reafirmamos nosso compromisso com uma verdadeira democracia universitária. Não devemos ser incoerentes, se queremos democracia no Brasil, devemos garantir democracia na Ufes.
Diretoria colegiada do Sintufes