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Planos de Contingência e de Biossegurança: Reitoria faz debate importante, mas sem ouvir devidamente a comunidade universitária

Plano de Biossegurança não é nem sequer discutido. Reitoria deixa Conselhos de fora das decisões, que vêm sendo tomadas por GT, que já não conta mais com Sintufes, Adufes e DCE

Os planos de Contingência e de Biossegurança da Ufes são extremamente importantes para se pensar e discutir sobre atividades remotas e o retorno das atividades presenciais em função da pandemia de covid-19. Mas a forma com que a gestão da Universidade vem tratando os planos não é a ideal. É que a gestão da Universidade não tem aberto, devidamente, o amplo debate. E parece não observar os devidos detalhes de toda a complexidade que está por trás da questão.

A segunda versão do Plano de Contingência foi apresentada, pelo Grupo de Trabalho (GT) Ufes Covid-19, na reunião conjunta do Conselho Universitário e do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), no dia 14 de julho, realizada remotamente. Mas os principais colegiados da Universidade foram, praticamente, mero espectadores da apresentação do plano.

As/os conselheiras/os levantaram diversas dúvidas, durante as quase 6 horas de reunião. Após isso, quando foi aberto o debate, ele praticamente não aconteceu. Até porque, a reunião foi apenas de apresentação da nova versão do plano. Versão essa que não teve a participação do Sintufes, Adufes e do DCE, por exemplo, pois as entidades saíram do GT por descordarem da forma que o grupo vinha realizado os trabalhos.

E mais: a intenção do reitor é deixar os principais conselhos da Universidade de fora da aprovação para implementação do Plano de Contingência. O reitor disse que a Ufes vai usar as novas versões dos planos (de Contingência e de Biossegurança) para criar resoluções que nem sequer serão votadas nos principais conselhos superiores da Ufes.

Clique aqui e conheça a segunda versão do Plano de Contingência.

Novo Plano de Contingência. Uma das novidades da segunda versão do Plano de Contingência apresentado é que ela traz seis fases para retomada das atividades presenciais, que não estavam na primeira versão. São elas: fases 0, 1, 2, 3, 4 e 5. Na fase 0 está prevista o replanejamento do calendário acadêmico. Algo que nem sequer começou a ser discutido. E que deveria abarcar democraticamente o máximo de atores possível: professoras/es, técnicas/os e estudantes, afinal, um calendário replanejado trará diversos impactos. E as realidades são muito distintas: sejam as realidades e as diferenças entre as três categorias; sejam as realidades e diferenças de cada categoria.

Plano de Biossegurança. Apesar de a Ufes informar em sua página que o Consuni e o Cepe “tomaram conhecimento” das segundas versões dos planos de Contingência e de Biossegurança, é preciso revelar que: O PLANO DE BIOSSEGURANÇA NÃO FOI APRESENTADO aos Conselhos. E fala sério, né? Precisa reunir os dois Conselhos para que os colegiados “tomem conhecimento” dos planos? Tanto que o título da matéria na página da Ufes chama atenção para aprovação da agenda para retomada de atividades.

Agenda foi aprovada. A votação foi bem apertada, mas o cronograma apresentado foi aprovado por 26 votos a 23. (Confira-o ao final desta matéria).

Seria o GT Ufes Covid-19 a principal instância da Universidade? Afinal, na própria versão do Plano de Contingência está prevista a sua aprovação pelas “instâncias competentes” da Ufes. Quais são as instâncias competentes da Ufes se não seus conselhos superiores? Ou o GT se tornou o órgão máximo da Universidade? Não é! Porém, o que se observa é que o GT parece ter ultrapassado a sua finalidade e a sua autonomia. Vale lembrar que as entidades que representam trabalhadoras/es e estudantes saíram do grupo de trabalho.

O Sintufes é contra os planos? Não. Inicialmente, em se tratando de uma pandemia de uma doença que já levou matou quase 80 mil pessoas no País, o Sintufes é favorável a preservação de vidas.

O Sintufes saiu do GT por entender que o grupo passou a se concentrar em ensino remoto e não se mostrava um espaço para se realizar o devido debate em torno de tudo que se envolve a Universidade. E o GT começou a ser o cerne da discussão, deixando de fora os conselhos superiores.

A percepção é que pelo GT a gestão da universidade pode tocar as deliberações em torno das atividades remotas e do retorno das atividades em articulação com a Andifes, uma vez que a maioria das universidades não suspenderam seus calendários acadêmicos. E os reitores, geralmente, vão atender interesses do governo, do MEC, que acabam interligados com o de empresários e até de setores da educação privada. Ou seja, diversas questões acabam ficando em segundo plano, trazendo prejuízos a muitas pessoas que não têm condições de acesso aos serviços remotos: seja para o ensino seja para o trabalho.

Para o Sintufes, a suspensão do calendário acadêmico deve ser discutida, já que estamos longe de saber quando a pandemia vai acabar ou quando vai ter uma queda que possibilite o retorno das atividades utilizando-se as devidas medidas sanitárias para evitar a propagação do vírus.

E a universidade vai ficar parada? O fato do campus de Goiabeiras não está com milhares de pessoas diariamente não significa que a Universidade está parada. O Hucam segue 24 horas aberto, com muitas/os técnicas/os na luta, na linha de frente da covid-19. Muitos laboratórios seguem funcionando. Há diversas pesquisas sendo feitas, inclusive nos campi avançados em Alegre e São Mateus.

A Ufes, na verdade, ela está funcionando plenamente como diversas outras universidades que se voltaram para lutar contra essa terrível doença. Sem falar que muitas/os trabalhadoras/es estão atuando remotamente de suas casas.

Mas o plano não fala sobre trabalho remoto? Fala! O problema é que não traz as devidas especificações, não observa os pormenores e as complexidades em torno dessa situação. Afinal, para o técnico trabalhar não basta apenas ter uma conexão com a internet e ligar o notebook. Tem aqueles que não têm o devido acesso. Sem falar no custo que a atividade remota gera para o trabalhador.

E as aulas remotas? Tem outras complexidades que não estão contempladas no plano. O chamado Ensino-Aprendizagem Remoto Temporário Emergencial (Earte) pode ser uma forma para a devida retomada do calendário acadêmico. Mas os planos não trabalham as complexidades. Tem estudante passando dificuldades e até fome com a pandemia. Será que oferecer a este estudante uma forma para ter acesso ao Earte vai bastar? E os bolsistas, que podem perder os prazos das bolsas?

As aulas remotas por parte das/os professoras/es? Pedagogicamente, a grande maioria das professoras e dos professores não está preparada para lecionar via Earte. A dinâmica é totalmente diferente da sala de aula. Os planos apontam para treinamento de docentes. Mas ninguém foi treinado até agora.

Para o Sintufes, a campanha lançada juntamente da Adufes e do DCE dá o tom que deveria ser adotado pela gestão da Universidade: “Ufes contra o ensino remoto. Ninguém fica para trás!”. Para as entidades o entendimento da Universidade deveria ser este: não dá para deixar ninguém ficando para trás.

Gestão diz que foi feito debate
O reitor aponta que os centros enviaram contribuições para os planos. Ok, mas e a participação das categorias foi ampla? Não vem sendo. E isso precisa ser definido com o máximo de discussão possível. Não se trata de dificultar ou tornar as decisões mais demoradas. Mas sim se de se abrir o debate amplo e democrático para que todas e todos possam se posicionar e até mostrar alternativas diante dessa conjuntura extremamente complexa que estamos vivendo.

Cronograma aprovado
– Ampliação da divulgação dos planos de Contingência e de Biossegurança no âmbito dos centros de ensino (estudantes, técnicos-administrativos, reuniões departamentais, fóruns dos centros, apresentação em plenárias etc.) – a partir do dia 13/07/2020;

– Apresentação e discussão de propostas de resolução que materializem as diretrizes apontadas pelos planos de Contingência e de Biossegurança nas câmaras de Graduação e de Pós-graduação – até 30/07/2020;

– Ensino, pesquisa e extensão: apresentação de propostas de resolução às comissões do Cepe – até 06/08/2020;

– Gestão administrativa: apresentação de propostas de resolução às comissões do Conselho Universitário – até 06/08/2020;

– Discussão e deliberação das resoluções pelos conselhos – 13/08/2020;

– Discussão e deliberação das alterações da Resolução nº 7/2020 pelo Conselho Universitário – 13/08/2020.