O Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro) foi celebrado pela primeira vez em 1992, por iniciativa da Federação Mundial para Saúde Mental, uma organização global de saúde mental com membros e contatos em mais de 150 países. A data visa a conscientização e a defesa da saúde mental global.
A Organização Mundial de Saúde, em campanha concebida junto da United for Global Mental Health (Unidos pela Saúde Mental Global) e da Federação Mundial de Saúde Mental, aponta para a necessidade de investimentos em saúde mental. “A campanha é baseada na constatação de que, apesar do fato de que a saúde mental tem atraído cada vez mais atenção global nos últimos anos, não recebeu investimentos proporcionais”, assinala matéria sobre a ação, publicada no portal da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
“Esta campanha nos oferece a oportunidade de apostar a favor da vida: a nível individual, de tomar medidas concretas a favor da nossa saúde mental e de apoiar amigos e familiares com condições mentais; como empregadores, adotando medidas para implementar programas de bem-estar dos funcionários(as); a nível governamental, comprometendo-se a estabelecer ou expandir os serviços de saúde mental”, explica o texto publicado no site da Opas.
Importante salientar que no Brasil, o Sistema Único de Saúde, tem uma rede voltada para a saúde mental, como os Caps, os Centros de Atenção Psicossocial. Hospitais psiquiátricos e até unidades de saúde também contribuem nessa questão, assim como instrumentos do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), os centros de referência especializado em assistência social e os centros de assistência social (Creas e Cras).
Por isso, é importante que os governos invistam nessas políticas públicas, promovam a valorização profissional das/os trabalhadoras/es desses espaços e atuem contra a precarização e a privatização desses serviços.
#FaçaSuaParte contra o preconceito. A Opas lançou, neste ano, a campanha: #FaçaSuaParte para apoiar a saúde mental. Ela tem o objetivo de fazer o enfrentamento do estigma e da discriminação contra pessoas em condições de saúde mental.
“As condições de saúde mental são comuns em todo o mundo e foram amplificadas pela pandemia da covid-19, que teve um impacto generalizado em toda a população. Um estudo publicado na revista The Lancet estimou que os distúrbios depressivos e de ansiedade aumentaram 35% e 32% respectivamente em 2020 na América Latina e no Caribe devido à pandemia”, destaca matéria publicada no portal da Opas.
Trabalhadoras/es do Hucam
Outro estudo, o “Heoroes” (The COVID-19 HEalth CaRe WOrkErs Study) foi feito com trabalhadoras/es do SUS no Brasil e em outros dez países latino-americanos, totalizando 14,5 mil profissionais com atuação em ambiente hospitalar no primeiro ano da pandemia (2020).
“É um estudo importante que contou com o apoio da Opas. Ele evidencia como, no primeiro ano da pandemia 2020, os trabalhadores da saúde foram levados à exaustão e os efeitos dessa exaustão na saúde mental”, argumenta o psicólogo Wallace Ribeiro, da Divisão de Gestão de Pessoas do Hospital Universitário (Unidade de Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalhador – SOST).
Segundo ele, os rebatimentos da crise continuam sendo sentidos por trabalhadoras/es do Hucam.
“Em 2020 e 2021 houve um aumento da procura de atendimentos. Principalmente por ansiedade e depressão. A pandemia, medo de infecção e transmissão do vírus para os familiares, incertezas financeiras, perda de renda, perdas de entes queridos, de projetos de vida, perdas de possibilidades de lazer, de convívio familiar e de amizades, perdas de contatos com amigos, enfim perda de redes de apoio afetiva”, relembra.
Além do transtorno mental
O psicólogo explica que questões de saúde mental podem aparecer mesmo em pessoas que não tenham diagnóstico de algum transtorno, como a depressão.
“Assédio moral, racismo, bullying, desemprego, exaustão psíquica, separação, término de namoro, só para citar algumas situações que produzem sofrimento extremos. Nestes momentos acionar as redes de apoio afetiva e especializada é importante”, salienta.
É preciso entender que, quaisquer pessoas podem precisar de cuidados com sua saúde mental, em algum momento de suas vidas.
Saúde mental, emprego e políticas públicas
Estudos associam o trabalho a um vínculo de inclusão social para além da família. Da mesma forma, o desemprego está associado a uma forma de exclusão, de desvalorização social, de sentimento de fracasso e de tensão etc.
Nessa toada, há estudos que pontuam a importância de um emprego com estabilidade e com bom salário. Obviamente, que quem tem um bom salário e emprego estável não está liberado de ter atenção com a sua saúde mental. Mas bom salário e estabilidade podem ajudar, sim, sobretudo se a pessoa consegue ter uma boa qualidade de vida com o seu emprego.
Afinal, ainda que você tenha a estabilidade, como acontece com trabalhadores efetivos do serviço público, o assédio moral pode trazer prejuízos para sua saúde mental. Assim como o fim da estabilidade, como está previsto na reforma administrativa (PEC 32/2020). Imagina ter de trabalhar correndo o risco de ser demitido, sendo assediado etc.
Assim como ser valorizado é uma forma de colaborar com o bem-estar de sua saúde mental. Por isso, é importante defender a Lei do Piso da Enfermagem, bem como lutar por reposição salarial.
Outra questão importante é ter acesso a políticas públicas: seja para cuidar da saúde mental, nos centros de atenção psicossocial do SUS, por exemplo; seja para ir a uma simples consulta médica, em uma unidade básica de saúde.
Por isso que o investimento em saúde pública, em educação pública é uma forma de cuidar da saúde mental das pessoas.
Investir em saúde mental é investir num futuro melhor. Como aponta a campanha da OMS, o investimento em saúde mental pode ser feito por cada um de nós: desde praticar hábitos saudáveis, se alimentar bem, evitar consumo excessivo de álcool e outras drogas; fazer exercícios físicos etc; mas a questão vai além.
É importante termos um governo que invista nos serviços públicos, que não queira a privatização do SUS, das universidades públicas, porque esse tipo de investimento contribui, sim para cuidar da saúde mental das pessoas.
Recorte racial e de gênero
Ao considerar ‘mimimi’ a questão racial, de gênero e de diversidade sexual, por exemplo, o presidente gera os mais diversos rebatimentos na saúde mental das mulheres, das pessoas negras, da população LBGTQIA+.
“Sob Bolsonaro e pandemia, pessoas LGBTQIA+ sofrem com apagão de políticas públicas”, noticiou a Folha de SP, em junho de 2021.
LGBTQIAfobia. Bolsonaro prova que é LGBTQIAfóbico em afirmações divulgadas pela imprensa. Como nesta matéria publicada pelo Correio Braziliense, em janeiro de 2022.
Bolsonaro afirma que pautas LGBT “destroem a família” e comemora ações na mão de Mendonça. Para o presidente, o fato de pautas voltadas para “ideologia de gênero” caírem nas mãos do novo ministro do STF André Mendonça, foi “sorte” e “é uma tranquilidade para a família tradicional”.
Dessa forma, o #ForaBolsonaro se torna também uma forma de promover cuidado com a saúde mental. Porque, é um governo Bolsonaro que quer aprovar o fim dos serviços públicos via a reforma administrativa, além de não respeitar as questões de gênero, de raça, entre outros.