Entramos em greve no HUCAM no dia 01 de junho de 2015. E esta tem sido a greve mais difícil de todo nosso movimento. Em sua entrevista à televisão, o diretor do HUCAM/EB$ERH falou claramente que tudo vai funcionar 100%, e que colocará os trabalhadores da EB$ERH para atender os pacientes no nosso lugar.
Desde a entrada da EB$ERH, nós, trabalhadores da UFES, a partir do novo modelo de gestão autoritário, excludente e centrado na terceirização dos serviços, passamos a nos sentir desrespeitados, descartáveis e perdemos o senso de pertencimento ao local de trabalho. O prazer de chegar para trabalhar acabou: as aposentadorias correm o mais rápido que podem; e alguns, ficam sem tarefas, encostados, sem ter o que fazer, pois já foram excluídos do dia a dia do trabalho, pois sua atividade foi terceirizada. O Núcleo de Atenção a Saúde do Trabalhador praticamente desativado, mal consegue atender as demandas colocadas, os processos depressivos aumentam, nos tornamos invisíveis.
Para a implantação da empresa, a administração correu na frente, atropelando a tudo e a todos, achando que quem chegasse primeiro ficaria com mais recursos. Doce ilusão que foi. E nós já sabíamos: POIS NÃO EXISTE RECURSO NOVO.
O que existe é apenas a reposição de pessoal que estava congelada esperando poder ser contratada pela CLT, burlando a Constituição Federal. Hoje se administra os mesmos recursos da mesma forma de antes, catando migalhas.
Naquela época foi colocada uma lista de 100 pessoas que poderiam sair do HUCAM e não aceitamos, pois havíamos partilhado ali toda nossa vida, e ingenuamente pensamos que este processo não seria tão agressivo e autoritário, a ponto de nos tirar uma das identidades mais forte que construímos durante a nossa vida, a nossa identidade com o trabalho.
Nós a perdemos! O HUCAM não existe mais, existe um exército de caneta em punho para fiscalizar, advertir e punir quem sempre trabalhou e conhece mais do que todos que chegam todos os procedimentos e normas!
Este é o sentimento da grande maioria dos trabalhadores da Universidade e isto se observa em nossos olhos e em nossas palavras todos os dias.
No HUCAM/EB$ERH não existem mais paciente e sim clientes. Os clientes que conhecemos são os compradores de lojas, supermercados, do comércio em geral. O que está colocado subjetivamente aqui, nesta palavra cliente do HUCAM/EB$ERH é que num futuro próximo vão comprar as mercadorias produzidas aqui, ou seja, os exames, as consultas, as ressonâncias, pois saúde neste país há muito já virou mercadoria.
No HUCAM/EB$ERH não existem mais trabalhadores e sim colaboradores. MAS NÓS NÃO SOMOS COLABORADORES. Ficamos pensando como pessoas inteligentes, estudadas, podem querer desqualificar o trabalho como processo central de produção e reprodução da vida humana. É a partir do trabalho que se desenvolvem as relações sociais. É lamentável! Nós temos identidade, somos trabalhadores da saúde, trabalhamos dia a dia a construção do Sistema único de Saúde, fazemos parte da classe trabalhadora brasileira!
Sentimos na verdade que somos aqui intrusos, não fazemos mais do HUCAM, um Hospital Público, Gratuito e de Qualidade. Nem sequer podemos ser atendidos no pronto-socorro se passarmos mal durante o horário de trabalho.
Por tudo isto, pedimos ao Magnífico Reitor da Universidade Federal do Espírito Santo, que abra um processo para transferir os que quiserem, para um local onde possamos desenvolver nossa atividade com dignidade. Pois saúde não se faz com normas, pops, autoritarismo, metas, Conselho Gestor viciado e outros instrumentos utilizados por esta empresa, não somos colaboradores, somos muito mais que isto. Somos trabalhadores.
SAÚDE SE FAZ COM AFETO, COM TROCA DE AMOR E CUIDADO COM O PACIENTE, COMO FIZEMOS A VIDA TODA E NÃO SE FAZ MAIS. PARA NÓS, PACIENTE NÃO É UM NÚMERO, É UM SER HUMANO!
NÃO QUEREMOS TRABALHAR COM NÚMEROS, QUEREMOS NOS TRANSFERIR PARA OUTRO LOCAL DA UNIVERSIDADE OU FORA DELA, ONDE POSSAMOS TRAZER DE VOLTA O SENTIDO DO NOSSO TRABALHO QUE É CUIDAR DE VIDAS !