Os trabalhadores técnico-administrativos do Hucam não foram ouvidos e nem tiveram a oportunidade do amplo debate com a administração da Ufes sobre o processo de adesão do hospital à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares Ebserh.
O reitor da Ufes não atendeu às solicitações do Sintufes para debater sobre a privatização do Hospital das Clínicas com a categoria, a comunidade acadêmica e também com a população. E ele nem sequer entregou gravações de deliberações do Conselho Universitário referentes ao processo de adesão, que foram solicitadas pela diretoria colegiada do sindicato.
E na quarta-feira, 08 de maio, por força da greve, a Reitoria liberou um calhamaço de documentos sobre a Empresa que deveriam ser de domínio público – já que o reitor afirma que o hospital continuará a atender 100% SUS e a receber dinheiro público. Cadê a Lei da Transparência?!
Por essas e outras, os trabalhadores puderam conhecer de perto o autoritarismo e a intransigência do reitor em mais uma rodada da negociação da greve no Hucam, realizada na Reitoria (foto), em Goiabeiras, Vitória.
Apesar das dificuldades em se avançar nas negociações, o Comando Local de Greve no Hucam levará à Reitoria um termo de acordo de greve na segunda-feira, 13, às 08 horas.
Antes, porém, respeitando os instrumentos democráticos – que parecem esquecidos pela atual gestão da Universidade, o termo de greve será deliberado pela assembleia da categoria, nesta sexta-feira, 10, às 10 horas na seção sindical do Sintufes no campus de Maruípe, na capital.
Um grupo de trabalhadores do hospital acompanhou a reunião entre a Reitoria, representada pelo reitor, Reinaldo Centoducatte, pela vice-reitora, Maria Aparecida Barreto, pela pró-reitora Lúcia Casate, e pelo chefe de gabinete Renato Schwab e a Comissão de Negociação do Comando Local de Greve.
Documentos
O termo de acordo de greve começou a ser produzido pelo setor Jurídico do Sintufes e pelo Comando Local de Greve, logo após o chefe de gabinete da Reitoria entregar os documentos referentes à adesão do Hucam à Ebserh, pouco após das 21 horas, da quarta-feira, 08.
Cobramos o contrato, o diagnóstico da Empresa sobre o hospital, os anexos, documentos que já tínhamos solicitado, mas a Reitoria insistia em não entregar, assim como se negou a fazer um amplo debate em torno desse processo de privatização do Hucam, disse a coordenadora-geral da Fasubra e representante do Comando Local de Greve, Janine Teixeira.
“Isso mostra a força e a importância da nossa greve, pois sem o nosso movimento, dificilmente, teríamos acesso aos documentos”, completou.
Assembleia é soberana
Na reunião, o reitor propôs que o Comando Local de Greve fosse à mesa de negociação na segunda-feira, 13, já com indicativo de fim de greve.
Porém, ele foi lembrado que o Comando não é autoritário e nem tem poder para essa decisão sem ter o respaldo dos trabalhadores.
A assembleia é soberana, reitor. Se eles decidirem por continuar a greve, independente do termo de acordo, a greve vai continuar, explicou o membro do Comando José Magesk.
Incoerência
Por que nosso nome foi exposto numa lista no site da Ufes? Meu nome apareceu lá sem eu ser notificada. Fui desrespeitada, questionou uma trabalhadora do Hucam na reunião.
Segundo o reitor, a lista foi disponibilizada a fim de distribuir os mais de 100 trabalhadores pela universidade para que se abrisse aquele determinado número de vagas para a Ebserh contratar. Esse foi o pressuposto, explicou o reitor.
E isso é uma incoerência, afinal o reitor foi à imprensa dizer que o maior problema do hospital é de recursos humanos. Por que então tirar trabalhadores, que já conhecem o local de trabalho e o fazer profissional, para a Ebserh contratar além do contingente que já precisa?
Pontos de pauta
Dos quatro pontos da pauta da greve, o reitor respondeu a dois que já são de direito dos trabalhadores e foram colocados na pauta para ratificar estes direitos.
Os pontos de pauta são número 1. Contra a Ebserh; 2. Não subordinação dos trabalhadores do Hucam à gerência da Ebserh; 3. Pela manutenção da jornada de trabalho de 30 horas; e 4. Pelo livre direito de opção dos trabalhadores do Hucam de continuar no seu local de trabalho vinculado a Ufes.
O reitor, em ofício, garantiu a jornada e o livre direito de opção. Porém, o comunicado veio com uma “pegadinha”.
“Servidores que atuam nos plantões cumprem jornada de 12 horas ininterruptas, com posterior descanso de 36 horas”, informava a nota que foi impressa e panfletada no hospital com o diretor do Hucam ajudando na distribuição do panfleto, inclusive.
Na reunião o reitor disse que foi um erro. Afinal, na jornada de 30 horas semanais, o descanso deve ser de 60 e não de 36 horas.
Independentemente de o erro ter sido proposital ou não, os dois pontos da pauta (3 e 4) já são garantidos aos trabalhadores – o da remoção e da distribuição pelo RJU; e as 30 horas por decisão do Conselho Universitário, respaldada pelo Decreto nº 4.836/2003.
Por outro lado, quando o Comando de Greve se dispôs a elaborar o termo de acordo para garantir os demais pontos, o reitor fez uma ameaça.
Nós vamos buscar a opinião pública para vir ao nosso favor, ameaçou o magnífico querendo que o Comando de Greve apresentasse um dia para apresentar a decisão da assembleia acerca do acordo.
Ele até chegou a propor o domingo 12 de maio Dia das Mães, que mesmo sem a data especial não seria aceito pelos representantes da categoria.
E nesse momento a vice-reitora da Ufes foi, de certa forma, desabonada pelo reitor.
É que ele viajará na segunda-feira, 13, à tarde e só retorna na sexta-feira, 17. O Comando propôs que a vice-reitora recebesse a resposta, na terça, 14, mas ele não concordou quer estar presente.
Em que pese a intransigência de vossa magnificência, o Comando acordou em levar o termo antes da viagem do reitor, às 08 da manhã da segunda-feira, 13.
Vale a reflexão. No comunicado da Reitoria é informado que o Hucam atenderá apenas a usuários do SUS. Porém, não diz se esse atendimento será sempre 100% SUS. Por isso, é importante refletir: de que lado a opinião pública ficará quando o Hucam começar a atender planos de saúde?